EDUCAÇÃO E DROGAS
O quadro é verdadeiramente aterrador. Não podemos nutrir a ingenuidade de admitir que o panorama da toxicomania não seja preocupante.
Tanto nos países pobres, onde carências materiais e morais são abundantes, quanto nos países ricos, verdadeiros potentados econômicos, onde o excesso de conforto material é a realidade quotidiana, ao lado da vacuidade, da falta de motivação para a conquista de valores da moralidade, tudo parece mais grave, no campo dos usos inveterados de substâncias psicotrópicas.
Em todos os pontos, percebemos preocupações com o fenômeno “dependência”. Em toda parte, paradoxalmente, anotamos o crescimento dessa dependência enchendo de tormentos comunidades sociais inteiras, num quadro de tal modo desafiador, que se pensa não haver saída fácil para a problemática.
Realmente, não será fácil a eliminação de semelhantes dramas, quanto não será imediata a lide da conscientização de todos para a grande necessidade de desfazer esse pesadelo.
Onde tem começo, então, a dependência tóxica? Como os indivíduos se alocam nesses grotões de desestruturação psicofisio-moral? Que fazer para desmontar essa tenebrosa armadilha?
É preciso um pouco de meditação para verificarmos que tudo começa na intimidade frágil de cada indivíduo. A busca da imitação irrefletida, os processos fugitivos que as fobias engendram, os processos de revolta e desejo de vingança contra o meio social, a exibição vaidosa que se apresenta como última expressão da “moda marginal”. Mas, em todas as situações, o âmago de cada um carrega as tintas fortes de frustrações ou rebeldia, ou está assinalado por intensos vazios ou desmotivação para viver, ou leva, ainda, as marcas da personalidade hipocondríaca ou exibicionista.
Urge pensar-se sempre mais amadurecidamente na virulência do tóxico em todo lugar.
Não se pode, com clareza mental, pensar que seja mera questão policial ou que passe pelas dimensões da política meteórica e corporativista do mundo, uma vez que políticos e policiais, quando não investidos dos valores morais devidos, certamente estarão patrocinando, usando ou mantendo execrável tráfico, destroçando cinicamente e sob o brilho de seus prestígios mentirosos, os mais nobres valores do ser humano e da sociedade como um todo, fazendo de conta que não conhecem, que não sabem, que não veem o que se passa à sua volta.
Só a educação tem o poder de transformar toda essa caótica situação, pelos motivos de que se torna impossível manter uma guarda permanente junto a cada lar ou a cada pessoa, sabendo que as drogas, nas suas multifaces, hão penetrado o convívio doméstico, arrebatando, aí, os familiares desprevenidos ou profundamente perturbados, da percepção ingênua, desatenta ou indiferente daqueles que deveriam ser seus guardiães.
Quando vemos pais que se gloriam com posições alcoólatras de seus filhos e outros que se ufanam com o posicionamento libertino dos seus herdeiros, no tocante às usanças de substâncias geradoras de dependência, tudo em nome dessa louca liberdade que encarcera e denigre, será fácil conceber que o programa de salvamento dos seres humanos desse pântano moral terá que apoiar-se numa consciência sempre mais desperta sobre os valores irrefutáveis da educação.
As estatísticas da loucura tóxica mostram médicos e professores, pais e mães de famílias, políticos de representatividade pública e religiosos de variada denominação, com tarefas de exalçar o bem e o bom, mordidos por essa insidiosa tormenta e concluímos, assim, que não serão os rótulos sociais que livrarão a Humanidade dessa hecatombe, mas, sim, os elementos morais, gerados pela mais digna e nobre atuação educacional. Entretanto, vale evocar o notável codificador do Espiritismo, ao estabelecer a premência de uma educação moral que se traduzisse por transformação do caráter e não pela memorização de aforismos. É dessa benfazeja educação, esquecida no seio das próprias famílias que se estão aprimorando em copiar as muitas expressões vazias e venenosas da mídia televisiva, com felizes exceções, que se sente falta. É dessa educação, exemplo e vivência, amor e responsabilidade, o de que estão necessitando as nossas variadas sociedades.
Seja entre pobres ou entre abastados, seja no meio de qualquer classe social, somente uma bem urdida educação moral poderá trazer ao mundo a luz anunciada pelo Cristo Excelso, asseverando que somente pela pureza de coração o indivíduo seria apto a encontrar-se com Deus, nesse profundo encontro que se efetuará no seu próprio íntimo.
Nenhum processo de toxicomania está dissociado dos processos das almas enfermas. Espíritos sadios não se deixam embair pelas drogas. Somente o esforço pelo autoconhecimento e a busca do Cristo no cerne d’alma, no empenho de higienizar a intimidade, é que predisporão cada ser para a anelada libertação, para os formosos tempos de verdadeira liberdade e de integração na Vida Cósmica, sem pavores ou inseguranças, com alegria real, no campo de luz que Deus reserva aos que se superam a si mesmos.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl.43)