RESSENTIMENTOS
Pela esteira das experiências humanas, defrontamos caracteres os mais complexos, curiosos e estranhos, que vale a pena analisar para extrairmos benéficos aprendizados.
Dentre os tipos humanos variados, temos os que se mostram como exímios gozadores, piadistas especiais, quando se trata de trazer à luz as características de múltiplas pessoas, e que se comprazem em pespegar palmadas nos amigos em nome da liberdade que com eles têm. Apreciam as oportunidades em que podem exprimir seus pontos de vista, apresentandoos como medidas acabadas de bom-senso e de verdade.
Entretanto, esses mesmos companheiros são, efetivamente, desiguais, pois na medida em que as coisas que gostam de fazer e de dizer são ditas e feitas por outros indivíduos, contrariam-se, sobremaneira, em suas disposições íntimas.
São psicologias curiosas, no mínimo. São parciais e demonstram desestruturada educação, pois gostam de brincar livremente com os outros, mas não admitem a reciprocidade; adotam tapinhas sem que permitam, com tranquilidade, as mesmas reações dos companheiros contra si. Utilizam-se de narrações e chistes que envolvem tipos raros e posturas hilárias dos outros, sem que revelem os mesmos expedientes, quando vêm de encontro às suas particularidades, tiques ou trejeitos.
Esses companheiros estão sempre ressentidos com os que ousaram penetrar seu território psicológico particular ou emitir opiniões, tomando as mesmas liberdades por eles usufruídas sem pedir licença.
Há outras pessoas que se afirmam muito francas em suas relações com os semelhantes. Asseveram que não deixam passar o ensejo de corrigir, de admoestar, em nome de uma digna moral ou da necessidade de pôr-se os pingos nos is, sempre que isso se torna necessário. Seria uma medida bastante razoável, se esses francos indivíduos não se pusessem fortemente ressentidos com a franqueza alheia em torno deles.
Categorizam como grosseria e desconsideração nos outros aquilo que, em si mesmos, entendem como virtude.
É compreensível que aquilo que é tido como franqueza por muitos seres, não passa de educação social deficitária, intentando dourar-se ou travestir-se de valor.
Busca prestar atenção nos teus comportamentos junto aos irmãos do caminho de lutas, de experiências da vida, procurando educar a tua personalidade, a fim de que sejas lúcido e lógico, respeitoso e atencioso, de modo que não te tornes ridículo na pauta das tuas ações.
Educa-te para que, aos poucos, deixes os ressentimentos tolos, passando a compreender que os teus companheiros da reencarnação atual têm o mesmo direito de dizerte o que lhes dizes; têm as mesmas possibilidades de brincar e sorrir com as coisas e episódios com os quais tu, igualmente, folgas e te expandes.
Os ressentimentos, os melindres que cultivas na alma, pelo fato de não os corrigires, costumeiramente transformam amizades em tremendas inimizades; faz simpatias se converterem em inconcebíveis antipatias; promessas de amor se mudarem para realizações odientas. Tudo por intensa infantilidade do caráter que não amadureceu, que não evoluiu, fazendo-se perigosa arma destrutiva no caminho evolutivo das criaturas.
Educa-te para que ajas como adulto, sem perder a alegria, a jovialidade, o encantamento pela existência, sem faltares com a atenção, com o respeito, com a fraternidade, na convivência junto aos teus irmãos das peripécias da vida.
Raciocina, e não permitas que os sentimentos desajustados te compliquem os dias.
Sente, e não deixes que a razão fria te faça cruel, perturbando tuas horas.
Não te olvides de que não são poucos os indivíduos que elaboram, no presente, inimizades e ódios, mágoas e melindres de tal modo que levam para o outro lado da vida esses problemas ou dramas, tornando-se imperiosas novas reencarnações para os arremates custosos, na conquista difícil de amizades, na busca frustrada por compreensão alheia, nas perturbações psíquicas, motivadas pelas rejeições provocadas nos tempos dos ressentimentos, nas experiências da insensatez.
Viver é ensejo que a Providência nos faculta para que elaboremos a própria evolução.
Viver bem é prerrogativa das almas que amadurecem, sabendo aproveitar as ensanchas da vida, a fim de serem felizes mais cedo.
Pensa nisso. Educa-te para a maturidade. Que nada, nem ninguém, possa tirar-te do prumo do equilíbrio indispensável das tuas energias psíquicas. Esforça-te e não te ressintas.
E, se perceberes que é forte o teu impulso para magoar-te com as coisas que vêm dos outros sobre ti, detêm-te e ora, pois, possivelmente, estejas absorvendo venenosas induções de qualquer adversário da tua paz.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 155)