RELACIONAMENTO COM OS ESPÍRITOS
Por mais que recuemos no tempo, será sempre complexo determinar o momento em que os habitantes da Erraticidade passaram a manter contato com os encarnados, na Terra. Dessa forma, pode-se dizer, sem erro, que essa interlocução teve começo desde que o primeiro grupo estabeleceu-se sobre o dorso planetário.
A realidade do Espírito se estabelece em dois estágios: um deles, o estágio no soma e outro, fora dele. Contudo, é sempre o Espírito experimentando a densidade da matéria bruta ou dela liberado, em etapas que se revezam, enquanto se enriquece de valores intelectuais e morais, ao longo das múltiplas jornadas.
O relacionamento dos encarnados com os desencarnados, nos mais variados quadros, através do tempo, esteve sempre assinalado por uma mística, em alguns momentos, mítica em outros, deixando-nos perceber quão pouco os seres humanos, revestidos de matéria orgânica, estranhavam ou desentendiam os irmãos que se achavam em outra dimensão. Daí, as suposições de que os desenfaixados do soma eram deuses, idolatrados, reverenciados, ou santos, com a evolução dos séculos, como se tivessem criação e destinação diferenciada, em função dos seus feitos, das suas realizações pelo mundo.
Não obstante, esteve a Terra sempre pontilhada por indivíduos isolados ou formandos em escolas iniciáticas, que aprenderam a ver nos Espíritos os irmãos desencarnados da Humanidade, ora merecendo justo respeito, ora admissível admiração, ora o socorro e a orientação, ora a admoestação, em razão dos caracteres que vinham apresentar aos que com eles contatavam.
Nos variados tempos, essas Entidades invisíveis para a maioria dos mortais foram encaradas como protetoras, guardiães, padroeiras…
Por outro enfoque, deveriam tratar das plantações e das colheitas, das guerras e dos armistícios, da orgia ou da paz, de conformidade com as inclinações psicológicas do grupo social que as considerava.
Nos tempos atuais, tudo mostra que não houve tantos progressos conceptuais para a alma das coletividades.
Ainda são procurados os desencarnados, para atenderem às questões mais rudimentares, que dizem respeito aos encarnados.
São requisitados os habitantes do Invisível, para que solucionem, milagrosamente, as pendências humanas, que o orgulho, a vaidade, a má vontade não deixaram solucionar, normalmente.
Os desencarnados, hoje, são inculcados como responsáveis por proteger as pessoas, por oferecer soluções fáceis a problemas humanos, por curar a saúde física e por resguardar as vivendas, do mesmo modo que nos idos dias do pretérito terreno.
Identificamos cabeças ilustradas por lauréis acadêmicos, que não saíram, todavia, das faixas de irracional credulidade, tanto quanto o fazem muitos tolos sem qualquer tintura de aprimoramento intelectual.
Vemos aqueles que anseiam por triunfar no mundo dos negócios, graças à intervenção dos Espíritos, e não se pejam de lhes fazer as mais absurdas oblatas.
Tudo, então, se assemelha aos prístinos dias do ser humano na Terra.
Urge modificar-se tal quadro de relacionamento doentio, interesseiro ou fanático, por meio de acurado processo educacional, com o qual se possa orientar as consciências, desde as horas infantis, a manterem contato equilibrado e lúcido com os desencarnados, aprendendo a viver em consonância com o bem, sem coisa alguma a oferecer-lhes, a não ser a nossa vibração carinhosa e bem ajustada ao equilíbrio, quando se nos apresentem inferiores, ou a nossa vibração de fidelidade ao trabalho renovador, quando se mostrem vitoriosos companheiros iluminados, certos de que aquilo que necessitarmos para nossa trilha no mundo, eles, sob o comando de Jesus, nos outorgarão, sem que deles façamos estafetas dos nossos desejos ou escravos das nossas paixões.
O Espiritismo, na sua feição de educador das almas que se encontrem nos dois estágios da Vida, no soma ou dele distantes, muito tem a brindar-nos, no campo dessa urgente orientação, que permitirá que saiam tantos seres estonteados e cegos pela ignorância dos pântanos de grotescas obsessões que os fazem até mesmo delinquir, debaixo das pressões espirituais de desencarnados aos quais se submetem, supondo controlá-los.
Que se possa despertar a criatura, enquanto os cânticos da Veneranda Doutrina dos Espíritos fazem vibrar notas de harmonia, de bom-senso, de entendimento, uma vez que fora desse roteiro, a relação estabelecida de modo deseducado ou torpe com os desencarnados arrastará cada vez maiores contingentes de almas para a sandice, para a perda de tempo, para a loucura, que somente o futuro de expiações difíceis logrará corrigir.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 109)