MEDIUNIDADE E PROBLEMAS
Curiosamente, mesmo sabendo que as ocorrências mediúnicas datam de priscas eras, uma vez que são detectadas no mundo desde que há seres humanos sobre o dorso, o desconhecimento acerca de sua natureza e dos seus objetivos entre os homens chega a impactar, surpreendendo sobremaneira.
Mesmo com os progressos de múltiplas doutrinas de feição espiritualista, que consideram a realidade do homem espiritual, sobrevivente ao homem corporal, ainda há grande e grave desconhecimento sobre os fenômenos do intercâmbio mediúnico.
Não são poucas as pessoas que, de um modo ou de outro, travaram contato com as informações do Invisível, descobrindo, com o passar do tempo, as próprias potencialidades mediúnicas.
Tristemente, porém, muitas dessas criaturas que se sabem ou se imaginam médiuns, não são bafejadas pelos recursos de amadurecido estudo, a fim de que compreendam o que é que se passa nesse vasto território dos fenômenos psíquicos.
Seria de esperar-se que os indivíduos que se embrenham pelos bosques das percepções mediúnicas fossem caindo em si, aprendendo que todos terão que dar conta desses talentos formidáveis que lhes são concedidos, nas experiências terrenas, na condição de empréstimo, proporcionando liberdade e ventura íntimas, logrando evadir-se dos tormentosos episódios do pretérito culposo ou negligente.
No campo dos problemas vários, que enxameiam no cotidiano, vale assinalar o quanto a mediunidade, pouco compreendida, tem sido inculpada por todos os dramas que se instalam no bojo das vidas.
As vozes da ignorância costumam dizer:
—“Você sofre desse jeito porque não desenvolve a mediunidade…”
—“Se você não se desenvolver, não conquistará ninguém, nem ninguém se interessará por você…”
—“…São seus guias que lhe estão surrando, porque você não quer trabalhar…”
—“Essas dores, sem dúvida, são fruto da sua renitência. Você tem que desenvolver para sarar…”
Em todos os lances do caminho, sejam problemas afetivos, questões de enfermidade, dificuldades profissionais ou dramas familiares, tudo costuma ser atribuído à mediunidade, sem o mínimo bom-senso para refletir sobre a verdade.
Sob a luz prodigiosa do Espiritismo as situações da vida vão sendo aclaradas, tendo a mediunidade como faculdade inerente ao ser humano, e de que se torna difícil encontrar alguém que não haja vivido algum rudimento dessas percepções psíquicas, como assinala Allan Kardec9. A mediunidade, assim, corresponde a bendito instrumento para a felicidade e para a redenção e não motivo de sofrimento e aflição no mundo.
Vale cogitarmos da grandeza de que se reveste a mediunidade, e que os médiuns sofrem, sem dúvida, mas não por culpa da percepção mediúnica, porém em função de sua responsabilidade, já que se acham comprometidos negativamente com as leis da Vida, e que sofreriam com ou sem as aberturas mediúnicas.
A decantada mediunidade de provas não passa de episódio no qual alguém em provas e sérias expiações recebeu da Divina Misericórdia as excelências da sensibilidade mediúnica, através de cujas portas será chamado ou convocado à assunção de responsabilidades, bem como ao cumprimento dos deveres para com Deus, através do próximo.
Dessa forma, a mediunidade, mesmo quando se apresente assinalada por impertinentes padecimentos dos médiuns, representa para eles a mão da Celeste Providência, à qual nos habituamos a chamar de Misericórdia, evitando dores maiores e tormentos mais acerbos.
Cabe aos médiuns o serviço desinteressado aos semelhantes, dando de graça o que de graça recebem, mesmo que estejam enfrentando enormes dificuldades econômicofinanceiras…
É dever dos médiuns prestar socorro aos companheiros da Terra marcados por indescritíveis tormentos e aflições extensas, com bonomia e discrição, ainda que eles mesmos estejam, enquanto médiuns, atravessando quadras dolorosas de tremendos testemunhos…
Cabe aos médiuns incentivar honestamente as uniões esponsalícias respeitáveis, cooperando para que os lares se nutram no estuário do equilíbrio e da luz, ainda que, no próprio íntimo, conduzam os sonhos partidos ou inalcançáveis, por enquanto, padecendo os regimes de carência que, em Jesus, acharão alento e ajuste…
É dever dos médiuns abrir sua mente e seu coração, por meio das ingentes disciplinas e das atitudes enobrecidas, e devotar-se a transmitir a toda gente as claridades da Vida, que o Espiritismo ensina como base para a remissão e para o soerguimento de todos, mesmo quando não consigam ser ouvidos pelos próprios entes queridos, no ambiente doméstico, vivendo com honestidade os princípios esposados…
Quem sofre conduzindo o archote da mediunidade, sofre por haver-se complicado em nome do livre-arbítrio descompassado, necessitado de reeducação no tempo presente.
Ninguém responsabilize a mediunidade pelos próprios tormentos, dificuldades, carências, distúrbios e outros vários testemunhos que se acham em sua folha de resgates.
Quanto à mediunidade, ensina o Espiritismo que ela determina o ensejo de estabelecerse o intercurso entre o homem encarnado e o desencarnado, prodigalizando notável aprendizado, com vistas a uma vida melhor, quando tudo se passa em campo de luz.
Há adiante dos nossos olhos um alveiro, que é o Cristo. Fixados Nele e nos Seus ensinos, aprenderemos, nas lutas terrenas, a crescer e a superar-nos, identificando as reais matrizes dos nossos infortúnios, respeitando e valorizando o dom da mediunidade, por meio de diligente processo educacional.
(9) Nota do médium: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, item 159.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 103)