EM TORNO DA ADOÇÃO DE FILHOS
Ponderai também que muitas vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra encarnação, caso em que, se pudésseis lembrar-vos, já não estaríeis praticando a caridade, mas cumprindo um dever. (Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 18)
Identificação reencarnatória
O campo da adoção de filhos oculta, por sua vez, incontáveis surpresas que só o conhecimento profundo das divinas leis, em particular a da reencarnação, pode esclarecer devidamente.
Enquanto há inumeráveis casos nos quais os pais e os filhos adotivos jamais tenham se visto antes, em outras encarnações, poderemos achar incontáveis outros episódios de adoção em que pais e filhos são velhos amigos do pretérito, antigos amores que se reencontram, ou inimigos de distintas têmperas, que ora se defrontam para que todos possam dar prosseguimento à conquista da ventura que o Criador lhes reserva – ocorre o mesmo com os filhos da consanguinidade – devendo todos enfrentar os embates redentores que fatalmente surgirão.
Na grande maioria dos casos, renascem necessitados da adoção, Espíritos que se complicaram no lar antigo – foram filhos cruéis ou indiferentes para com seus genitores, abusadores da família, seres que agrediram ou lançaram à amargura os que deles dependiam – outros que foram déspotas sociais, que se valeram de suas posições administrativas ou políticas para espezinhar, para submeter ao abandono a muitos aos quais deviam orientação e proteção; e outros mais, que foram parricidas ou matricidas.
É por isso que são encontrados pela humanidade afora os lamentáveis casos em que muitas mães sentem aversão a seus filhos, logo que se certificam da gravidez; outras que tentam matá-los – e algumas vezes o conseguem – como se vissem neles as criaturas perigosas que no passado agiram contra elas.
Quantas são as genitoras que abandonam os filhos e desaparecem na poeira do mundo, como quem foge de um velho e conhecido malfeitor? Quantas mães, embora mantenham seus filhos consigo, sentem mórbido prazer em fustigá-los, em maltratá-los, em feri-los, como se exercessem estranho poder de vingança?
Tanto a psicologia quanto a psiquiatria terrestres ainda constatarão, quando encontrem a realidade do ser espiritual em seus pacientes e sobre ela se debrucem, os conjuntos de episódios reencarnatórios que dão suporte a todas as citadas ocorrências, como também às neuroses e psicoses pós-parto, manifestadas em muitas mulheres e em homens incontáveis.
Os Espíritos que reencarnam no mundo, portadores dessas marcas do pretérito, que os predispõem às diversas orfandades – biológica, social, sentimental etc. – trazem em seu âmago as amarguras que deverão sofrer, ainda que sejam bem cuidados pelos pais adotivos, mesmo quando recebam amor dos que os aconchegaram em novo lar. São como cicatrizes, que recordam a quem as possui os fatos que propiciaram o seu surgimento.
Quando muitas vezes os pais adotivos observam em seus filhos do coração essas doloridas cicatrizes, parecendo que nada as consegue superar; quando os veem chorosos, amuados, ou rebeldes e inconformados, podem fazer ideia do que lhes sopra no íntimo essas insatisfações.
Resgatam também os pais adotivos, quando são ligações do passado culposo dos seus filhos, quando os auxiliaram ou inspiraram nos desmandos cometidos, ou quando tiveram chance de os esclarecer e renovar, no ontem infeliz, e não o fizeram.
Ampliam seus créditos de amor aqueles pais que, nada obstante seus adotivos difíceis, conseguiram apontar-lhes os caminhos do autoconhecimento, da autoaceitação e dos esforços renovadores, conseguindo que superassem muitos conflitos interiores e marchassem, corajosos, para a conquista da harmonia perdida, perdoados pela consciência, afim de reencontrarem, um dia, os velhos amores que seguem trabalhando por merecer.
Quando adotes um filho, faze-o pelo sentimento de cooperação com Deus, ajudando a desfazer as sombras da Terra, lançando os teus respingos emocionais de amor por onde seguem teus pés dispostos.
Nada esperes dos filhos que adotes, a não ser que sejam do bem, que se superem e que sejam tão felizes quanto permitam suas bagagens – como seria com teus filhos biológicos – e deixa-te inspirar pelos Celestes Mensageiros, que te segredarão como deverás agir e o que terás que fazer junto aos corações filiais que adotaste. Um dia eles acenderão archotes de luz imorredoura pelos caminhos que terás que trilhar, no futuro feliz que o amor te está preparando.
Fonte: Minha família, o mundo e eu – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo.