EDUCAÇÃO RELIGIOSA
“nem todo o que diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus…” Jesus (Mt. 7:21)
Pela vida em fora, nos caminhos dos homens, não são poucos os equívocos interpretativos que promovem a manutenção da ignorância que escraviza largas faixas das criaturas.
Imagina-se que a religião, aquela que tem por missão arrebatar as almas das torpezas mundanas para a luz celestial, está representada por sistemas teológicos estranhos, e às vezes absurdos, criados e desenvolvidos por pessoas de pensamentos férteis, de exagerada criatividade, que extravasaram os materiais de mitologias e misticismos absconsos, transformando-os em verdades dogmáticas, indiscutíveis, logrando impressionar uma vasta leva de indivíduos, alguns portadores de cultura acadêmica notória, com teórica habilidade de discernir, de reflexionar.
A religião verdadeira, em sua mais profunda expressão espiritual, deverá ser apta a “produzir o maior número possível de homens de bem”, consoante informaram os Excelsos Benfeitores da Humanidade ao notável Allan Kardec.12
A religião capacitada a representar o luculento pensamento do Criador sobre a Terra, será aquela que consiga iluminar vidas, embelezar as almas, nortear com segurança os passos humanos, sem imposições ou descabidas ameaças e promessas sem valor, respeitando a liberdade e a maturidade de cada um.
Enquanto os seres confundirem religião espiritual com os movimentos e sistemas exteriores, que visam, na ação dos seus criadores ou propaladores, somente o espaço político que César oferece, forjando riquezas e poderes meramente humanos aos seus pomposos líderes, tenham os nomes que tiverem, as massas persistirão enganadas no campo das suas relações com a Divindade.
Enganar-se-á, sempre, aquele que medir o valor de qualquer doutrina que se apresente no mundo, pelo contingente de “fiéis” que anunciem as suas estatísticas ou pela quota de participação nos governos do mundo que possam usufruir. Tudo não passará de engodo, tudo será dourada ilusão, estabelecendo maior soma de descrentes e frios pelo mundo.
É visível, é notória, a tremenda deseducação para a vida do Espírito, que se percebe em inumeráveis almas, nada obstante façam parte dos vários cultos com seu conjunto de cerimoniais que enchem os olhos, deixando vazios os corações, pela ausência de elementos racionais e de lógica bem assentados no equilíbrio, perante um amontoado de aforismos, ou um conjunto de termos tidos por sagrados, expressões cabalísticas, mistérios e fobias que, certamente, longe estarão de promover a saúde psíquica dos indivíduos, mas, sim, sua neurótica dependência, seus temores e equívocos.
Não são poucos os que batem no peito em processo de crise nervosa, por entre juras e promessas aos Poderes Celestes, plenamente desconhecedores da sapiência absoluta de Deus, uma vez que, passadas as emoções, encontram-se mergulhados nos mesmos enganos que juravam abandonar.
Grande número de companheiros matriculados nos circuitos de várias crenças seguem mundo em fora explorando negativamente os semelhantes, maquinando maneiras diversificadas de ferir, de denegrir os que não partilham o seu modo de pensar. Tantos são os que se embriagam em procedimentos vingativos, garantindo que “Deus está ao seu lado”, fortalecendo-os na loucura em que se encontram.
Uma verdadeira multidão de religiosos mantém-se comprometida com a pornografia, com vícios morais, os mais torpes, como se tudo fosse plausível, assacando justificativas as mais curiosas e indevidas. Misturam Deus com Mamon e pretendem servir a dois senhores, muito embora esteja bem mais aclimatada aos desvalores mundanos e mesmo a venenosas teorias que reservam tormentos e remorsos para o futuro.
Múltiplos agentes da ilusão ensinam aos seus “fiéis” a afivelarem ao rosto expressões piedosas, teatrais, como se Deus, através dos Egrégios Mentores da Terra, se pudesse sensibilizar com tais fisionomias e vozes elaboradas, treinadas para engodar.
Urge educar as massas, a pouco e pouco, para o discernimento necessário.
Assevera Jesus que “nem todos os que dizem: Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos Céus”. Vale meditar nas razões desta assertiva, considerando-se que é muito fácil falar coisas bonitas, é sempre fácil falar em nome do Senhor, embora seja difícil vivenciar as mensagens e expressões de beleza que são exteriorizadas tantas vezes, nas diferentes áreas da fé.
Somente por meio de amadurecida educação poder-se-á modificar esse quadro preocupante, educação que deve ser iniciada nas idades mais tenras da criatura, a fim de que se acostume a refletir, a ajuizar com acerto, afastando-se de sistemas sectários, mitológicos e incoerentes, que, apelando para o lado místico dos seres, se espalham, se enraízam, e acabam por retardar a marcha do progresso de tanta gente que já apresenta potencialidade para pensar mais alto e libertar-se.
Educação religiosa, assim, não deverá confundir-se com doutrinação ou catequese, que leva as almas a mergulharem num conjunto de piegas e esdrúxulas manifestações exteriores. A educação religiosa deverá desenvolver a alma humana para que ela aprenda a viver no mundo, sem ser do mundo, tornando-se, ao longo dos dias, cooperadora autêntica do Celeste Pai, onde esteja, com quem esteja, como esteja, demonstrando hábitos de saúde ética, equilíbrio moral, nos continuados exercícios do homem de bem, firmando-se para o inadiável encontro com o Cristo que, por agora, ainda se acha adormecido em cada um.
12 Nota de médium: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 842.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 167)