EDUCAÇÃO DOS IMPULSOS AFETIVOS
Lamentavelmente, são imensas as multidões que se precipitam nos pauís de infortúnios, desesperação e dores, a partir dos desassossegos que os impulsos afetivos mal conduzidos lhes impõem.
Na expressão dos relacionamentos conjugais, verificamos a exacerbação desses desastres, em nome de falsas necessidades que quanto mais atendidas, mais infelicitam, manietando os partícipes do espaço conjugal em torturas afetivas de difícil conserto.
É comum um dos parceiros, mais costumeiramente o elemento masculino, quando não devidamente orientado, lançar-se aos exageros e ansiedades pelo prazer que a sexualidade oferece, sem qualquer consideração pelo outro coração.
Desrespeitam os períodos de enfermidade, ou do ciclo ovulatório da companheira, alegando que carregam necessidades que precisam de inadiável atendimento, e, quando não contam com a anuência do outro ser, ou quando a situação, de fato, não aconselha a expansão do prazer libidinal, partem esses atordoados dos sentidos para experiências comprometedoras fora do clima doméstico, criando dificuldades ou dramas afetivos para sofrê-los durante um tempo imprevisível.
Costuma-se admitir, no seio das sociedades ignorantes das leis biológicas e das leis psicológicas que norteiam os indivíduos, que o elemento masculino leva necessidades que o elemento feminino deve represar e evitar.
Desconhecem que os Espíritos que renascem em corpos de homens ou de mulheres são os mesmos, caldeando experiências, com vistas à renovação e ao progresso urgentes.
Dessa forma, esses Espíritos imprimirão em seus circuitos neurológicos, em sua estrutura somática, as descargas de sentimentos, de desejos, de harmonias ou de inarmonias que estejam trazendo na bagagem da alma, de tempos remotos ou próximos, de conformidade com as rotas de maior ou menor equilíbrio que tenham vivido.
Vale, então, considerar a necessidade urgente de educação de base, para homens e mulheres, desde as horas do corpo infantil, no sentido de que aprendam a respeitar a existência, a amar-se, a fim de que logrem amar e respeitar os seres com os quais venham a relacionar-se em caráter de intimidade sexual, mais hoje, mais amanhã.
Torna-se imperiosa uma educação espiritual, capaz de levar os indivíduos à compreensão de que, na relação a dois, a troca genital pode ser vista como a parte menos significativa, ainda que represente o ápice de um processo de entrosamento e de aquecimento hormonal.
O mais importante, na relação do casal, é o nível de ternura, de amizade, de bem-querer, de respeito, de confiança que hajam desenvolvido na vida em comum, tanto que a inter-relação meramente fisiológica pode ser conseguida com qualquer outro ser, mas o complemento nutriente, que confere saúde, encantamento pela vida e paz, somente se consegue obter quando os corpos que se unem servem a almas que se amam num quadro de dedicações recíprocas.
Em muitos casos, a incapacidade do conhecimento um do outro, em escala mais alta, faz com que tudo seja referido às experiências genitais.
Tem-se oportunidade de ver que a pouca habitualidade de fazer incursões na alma alheia, identificando não só os defeitos, que pedem correção, mas, e principalmente, as virtudes estabelecidas ou em fase de processamento, impele o casal a ver um no outro apenas instrumento de prazer e erotismo.
Uma educação bem fundamentada nos princípios enobrecidos das leis de Deus, em cada criatura passa a refletir sobre sua condição de ser perene, de ser eterno, porque de uma realidade atemporal, conduzirá os parceiros da conjunção sexual a reconsiderar sempre as suas relações no mundo, usufruindo as bênçãos da libido bem norteada, sem perder o passo das finalidades desse sublime prazer no mundo, prazer que não deve nem necessita ser conspurcado, adulterado, prostituído tornando-se, nesse estuário harmonioso, a quota de divindade que há em cada criatura.
Conflitos e torturas sexuais são encontrados na Terra, entre homens e mulheres, constituindo quase um traço dominante em toda parte. Entretanto, vale a pena o esforço por uma educação perseverante e lúcida, capaz de transformar cada indivíduo num espelho refletor das harmonias da vida, produzindo amor e luz que impregnem as expressões da libido.
Quando te vejas vivenciando, com a alma eleita da tua, as experiências a dois, no contexto do lar, procura escapar dessas pressões pobremente sensoriais, mas faze com que os sensórios sirvam-te para exprimir a gloriosa presença do Criador em ti.
Busca descobrir no outro coração, que partilha as lutas diárias contigo, a alma querida com a qual guardas compromissos formosos, desde passados tempos, ou com quem deverás ressarcir difíceis problemas produzidos nos tempos da loucura ou do descompasso moral.
Seja qual for o motivo da tua união com outro ser, proponha-te a amá-lo, com ou sem interferência do corpo, fazendo com que brilhe a tua relação sob a estrela do indispensável equilíbrio.
Educa-te e ajuda a quem compartilha afetividade contigo, a fim de que ambos se libertem, gradualmente, do império da sensação, fazendo com que as mais felizes emoções superem as tormentas da carne e te façam vitorioso com a alma que te merece terna atenção, confiança, dedicação, em nome do Amor, que é o próprio Deus a respirar por ti.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 79)