FATORES CAUSAIS DA PREGUIÇA
A preguiça, ou propensão para a inatividade, para não trabalhar, também conhecida como lentidão para executar qualquer tarefa, ou caracterizada como negligência, moleza, tardança, é desvio de conduta, que merece maior consideração do que aquela que lhe tem sido oferecida.
Surge naturalmente, expressando-se como efeito de algum tipo de cansaço ou mesmo necessidade de repouso, de recomposição das forcas e do entusiasmo para a luta existencial.
Todavia, quando se torna prolongado o período reservado para o refazimento das energias, optando-se pela comodidade que se nega às atitudes indispensáveis ao progresso, apresenta-se como fenômeno anômalo de conduta.
É normal a aspiração por conforto e descanso, no entanto, não são poucos os indivíduos que se lhes entregam, sem que apliquem esforço físico ou moral pelo conseguir.
A preguiça pode expressar-se de maneira tranquila, quando o paciente se permite muitas horas de sono, permanência prolongada no leito, mesmo após haver dormido, cortinas cerradas e ambiente de sombras, sem que o tempo seja aproveitado de maneira correta para leituras, reflexões e preces.
Não perturba aos demais, igualmente não se predispõe ao equilíbrio nem ação.
Lentamente, essa conduta faz-se enfermiça, gerando conflitos psicológicos ou deles sendo resultante, em face das idéias perturbadoras de que não se é pessoa de valor, que nada lhe acontece de favorável, de que não tem merecimento nem os demais lhe oferecem consideração.
Esse tormento, que se avoluma, transforma-se em pessimismo que propele, cada vez mais, a situações de negatividade e de ressentimento.
Pode também transformar-se em mecanismo de autodestruição, em face da crescente ausência de aceitação de si mesmo, perdendo o necessário contributo da autoestima para uma existência saudável.
A pessoa assume posição retraída e silenciosa, evitando qualquer tipo de estímulo que a possa arrancar da constrição a que se submete espontaneamente.
Danosa, torna os membros lassos, a mente lenta no raciocínio, apresentando, após algum tempo, distúrbios de linguagem e de locomoção.
Sob outro aspecto, pode apresentar-se como perda do entusiasmo pela vida, ausência de motivação para ação realizar qualquer esforço dignificante ou algum tipo de ação estimuladora.
O seu centro de atividade é o ego, que somente se considera a si mesmo, evitando espraiar-se em direção das demais pessoas, em cuja convivência poderia haurir entusiasmo e alegria, retomando o arado sulcaria o solo dos sentimentos para a plantação da boa que vontade e do bem-estar.
A avaliação feita pelo individuo nesse estágio é sempre deprimente, porque não tem capacidade de ver as conquistas encorajadoras que já foram realizadas nem as possibilidades quase infinitas de crescimento e de edificação.
O tédio domina-lhe as paisagens íntimas e a falta de ideal reflete-se-lhe na indiferença com que encara quaisquer acontecimentos que, noutras circunstâncias, constituiriam emulação para novas atividades.
Esse desinteresse surge, quase sempre, da falta de horizontes mentais mais amplos, da aceitação de antolhos (proteção ocular para luz intensa) para os olhos idealistas que impedem a visão profunda e complexa das coisas e das formulações espirituais, limitando o campo de observação, cada vez mais estreito, que perde o colorido e a luminosidade.
Em outra situação, pode resultar de algum choque emocional não digerido conscientemente, no qual o ressentimento tomou conta da área mental, considerando-se pessoa desprestigiada ou perseguida, cuja contribuição para o desenvolvimento geral foi recusada.
Normalmente, aquele que assim se comporta é vitima de elevado egotismo, que somente sente-se bem quando se vê em destaque, embora não dispondo dos recursos hábeis para as ações que deve desempenhar.
Detectando-se incapacitado, refugia-se na inveja e na acusação aos demais, negando-se oportunidade de recuperação interior, a fim de enfrentar os embates que são perfeitamente naturais em todos e quaisquer empreendimentos.
O desinteresse é uma forma de morte do idealismo, em razão da falta de sustentação estimuladora para continuar vicejando.
Pode-se, ainda, identificar outra maneira em que se escora preguiça para continuar afligindo as pessoas desavisadas. É aquela na qual o isolamento apresenta-se como uma vingança contra a sociedade, não desejando envolver-se com nada ou ninguém, distanciando-se, cada vez mais, de tudo quanto diz respeito ao grupo familiar, social, espiritual.
Normalmente, esse comportamento é fruto de alguma injustificada decepção decorrente do excesso de autojulgamento superior, que os outros não puderam confirmar ou não se submeteram ao seu desplante.
Gerando grande dose de ressentimento, não há como esclarecer-se ao indivíduo, na postura a que se entrega, mantendo raiva e desejo de destruição de tudo quanto lhe parece ameaçar a conduta enfermiça.
Do ponto de vista espiritual, paciente da preguiça, que se pode tornar crônica, ainda se encontra em faixa primária de desenvolvimento, sem resistências morais para as lutas nem valores pessoais para os desafios.
Diante de qualquer impedimento recua, acusando aos outros ou si mesmo afligindo, no que se compraz, para fugir à responsabilidade que não deseja assumir.
A preguiça prolongada pode expressar também uma síndrome de depressão, mediante a qual se instalam os distúrbios de comportamento afetivo e social, gerando profundos desconfortos e ansiedade.
Fonte: Conflitos existenciais – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis.