A CONSCIÊNCIA E O REINO
Sem qualquer esforço, bem podemos aquilatar a profunda relação entre o pensamento luminoso de Jesus e o raciocínio exuberante da falange do Consolador, que Allan Kardec apresenta em O Livro dos Espíritos, como em toda a sua eloquente Codificação.
Jesus, na sua condição de Guia do Homem, Mestre da Humanidade, ajusta-se perfeitamente à postura de Celeste Psicólogo.
Afirmou o Dileto Filho de Deus que o “reino dos Céus não tem aparência exterior, mas está dentro de vós”10.
Enquanto isso, os nobres Guias que ditaram os ensinos espíritas consideram que as leis de Deus estão impressas na consciência do Homem, ante a questão proposta por Kardec11.
Não será difícil conceber-se que esses dois conceitos se apoiam e se complementam, pelo fato de que estão no âmago do Espírito, na zona chamada de consciência, todos os elementos disponíveis por ora, e os indisponíveis, por enquanto, para que o indivíduo seja apto ao crescimento para o Criador.
Na consciência da criatura, está o juiz seguro e implacável que tanto indica rumos quanto aponta equívocos e suas variadas intensidades e gravidade.
Somente nos conselhos que a consciência oferece, teria o indivíduo as condições mais amplas para que vivesse feliz pelo mundo, caminhando corretamente para as conquistas de si mesmo.
Sendo a consciência o imo do ser, essa parte do indivíduo que se vai elaborando, desde longevos tempos, quando o Espírito ainda se movimentava nas experiências do princípio espiritual, permite à criatura o ato de querer, quanto o ensejo de estruturar pensamentos, a condição de perceber as coisas, e mais um volumoso rol de possibilidades da alma.
Na consciência se encontram os pilares da ciência como os da filosofia. Uma vez que jamais se lograria a interpretação dos dados coligidos ou dos fenômenos observados, sem a participação racional, é bem certo que no imo do ser se acham os pilotis desses progressos.
O luminoso Senhor de Nazaré, ao afirmar que o Reino não está forjado em construções de fora, mas em conquistas de dentro, bem reconhece que não pode existir felicidade e júbilos sem entendimento, sem conhecimento, sem a preparação nas realidades mais exigentes do homem, logo, sem consciência.
O Reino dos Céus, apregoado, é a marca indelével desse estado longínquo em que nos situaremos na maior intimidade com a verdade, não com a verdade de fora, que costuma ferir, revoltar, desrespeitar ou exceder-se, porém com a verdade de dentro, que impõe meditação, autocorreção, cooperação fraterna na fuga do egoísmo. Logo, os elementos capazes de conduzir o homem ao reino íntimo da paz e do progresso encontraram suas bases no cerne de cada um.
Reconhecemos que tanto a consciência significa a presença de Deus em nós, como o reino de Deus é a própria maturidade da consciência, o seu iluminamento, o seu burilamento.
Essa dinâmica imposta pelo processo da autoeducação, que faz com que, na medida em que a consciência se amplie e brilhe, se vá forjando esse estado de sempre maior plenitude íntima, ao que podemos nomear de Reino dos Céus, é vital para a saúde cognitiva e para os movimentos volitivos da alma que então saberá escolher, dentre as estradas a trilhar, qual lhe pareça mais adequada aos seus projetos de vida espiritual, diminuindo sempre mais os vínculos com o equívoco, com a inferioridade persistente. É importante para cada indivíduo, então, aperceber-se de que não estão nas construções externas os valores espirituais definitivos do ser, embora se possa transformar as construções de fora em elementos auxiliares para as realizações do Reino de Deus.
Apruma-te, então, nas tuas elaborações felizes, a fim de que vivas consciente de tuas responsabilidades.
É necessário que te exercites em te conduzires pela consciência, de modo que te envolvas nas aleluias do Reino dos Céus, em teu próprio coração.
A consciência do Homem pode conduzi-lo ao Reino dos Céus. O Reino dos Céus, quando buscado com devotamento, fará brilhar a Sua consciência.
Apercebe-te disso e inicia, agora, mesmo que com esforços, a conquista desse galardão, o que consignará, por sua vez, a gradual conquista de ti mesmo, conferindo-te mais vasto conhecimento e entendimento dos celestes estatutos, permitindo-te a superação das ciladas sempre engendradas pelo estado de atraso moral e intelectual. E, então, conquistarás, por fim, a anelada paz de consciência.
10.Notas do médium: Lc. 17:20 e 21. 11.KARDEC, Allan.
O Livro dos Espíritos, questão 621.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 145)