A ALMA DO ESPIRITISMO
A Caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com seus semelhantes; eis porque se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.
Mas a Caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido. E se os Espíritos não cessam de a pregar e a definir, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.
O campo da Caridade é muito vasto: compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões: “Caridade beneficente e Caridade benevolente.”
Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de toda gente, do mais pobre ao mais rido. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade pode estabelecer limites à benevolência.
Que é preciso, então, para praticar a Caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo: ora se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-á muito; agir-se-á para com outrem como se queria que os outros agissem para conosco; não se quereria fazer mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.
Amar o próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar os inimigos e retribuir o mal com o bem; ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é cobrir ou desculpar as faltas dos outros, em vez de se comprazer em as pôr em relevo por espírito de aviltamento; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar a pessoa sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém por orgulho.
Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro Espírita, como do verdadeiro cristão; aquele sem a qual aquele que diz: “Fora da caridade não há salvação”, pronuncia sua própria condenação, tanto neste quanto no outro mundo.
ALLAN KARDEC
(Trecho do discurso pronunciado à Sociedade de Paria, em 1º de novembro de 1868, que Palavras de Luz apresenta à guisa de Editorial desta edição dedicada à Caridade” – nº 9 – julho/2003.