SUICÍDIO
Ato de extremada rebeldia, reação do orgulho desmedido, vingança de alto porte que busca destruir-se ante a impossibilidade de a outrem aniquilar, o suicídio revela o estágio de brutalidade moral em que se demora a criatura humana…
Por um minuto apenas, a revolta atira o ser no dédalo do desvario, conseguindo um tentame de desdita que se alonga por decênios lúridos (descorados) de amarguras e infortúnios indescritíveis.
Por uma interpretação precipitada, o amor-próprio ferido arroja o homem que se deseja livrar de um problema no poço sem fundo de mais inditosas conjunturas, de que somente a peso de demorados remorsos e agonias consegue vencer…
Evitando a enfermidade de alongada presença que conduzirá à morte, o impaciente antecipa o momento da libertação e através desse gesto se escraviza por tempo infindável ao desespero e à dor que o afligiam, agravados pela soma dos novos infortúnios infligidos à existência que lhe não compete exterminar…
Temendo o sofrimento o suicida impõe-se maior soma de aflições, no pressuposto de que o ato de cobardia encetado seria sancionado pelo apagar da consciência e pelo sono do nada…
Condicionado para os triunfos de fora, não se arma o homem para as conquistas interiores, mediante cujas realizações se imunizaria para as dificuldades naturais da luta com que se encontra comprometido em prol da própria ascensão.
À desdita sobrepõe-se a ventura, ao desaire a alegria, ao infortúnio resignado a esperança quando se sabe converter os espinhos e pedrouços da estrada em flores e bênçãos.
O homem está fadado à ventura e à plenitude espiritual. Não sendo autor da vida, inobstante se faça o usufrutuário nem sempre responsável, é-lhe vedada a permissão de aniquilá-la.
A si mesmos iludem os que debandam dos compromissos para com a vida.
Não morrerão.
Ninguém se destrói ante a morte.
A vida é um poema de amor e beleza esperando por nós.
Uma gota d’água transparente, uma nervura de folha, uma partícula de adubo, uma pétala perfumada, uma semente fértil, um raio de sol, o piscar de uma estrela são desafios à imaginação, à inteligência, à contemplação, à meditação, ao amor! …
Há, sem dúvida, agravantes e atenuantes, no exame do suicídio…
Todavia, seja qual for o motivo, a circunstância para o crime de retirada da vida, tal não consegue outro resultado senão o de atirar o delituoso ao encontro da vida estuante, em circunstância análoga àquela da qual pensou evadir-se, com os agravantes que não esperava defrontar…
Expungem, sim, na Erraticidade, em inenarráveis condições, os gravames da decisão funesta, e, na Terra, quando retornam, em cruentas expiações, os que defraudam a sagrada concessão divina, que é o corpo plasmado para a glória e a elevação do espírito.
Espera pelo amanhã, quando o teu dia se te apresente sombrio e apavorante.
Aguarda um pouco mais, quando tudo te empurrar ao desespero.
A Divindade possui soluções que desconheces para todos os enigmas e recursos que te escapam, a fim de elucidar e dirimir equívocos e dificuldades.
Ama a vida e vive com amor — embora constrangido muitas vezes à incompreensão, sob um clima de martírio e sobre um solo de cardos…
Recupera hoje o desperdício de ontem sem pensares, jamais, na atitude simplista do suicídio, que é a mais complexa e infeliz de todas as coisas que podem ocorrer ao homem.
Se te parecerem insuportáveis as dores, lembra-te de Jesus, na suprema humilhação da Cruz, todavia, confiando em Deus, e de Maria, Sua Mãe, em total angústia, fitando o filho traído, aparentemente abandonado, de alma também trespassada pela dor sem nome, por meio de cuja confiança integral se converteu em exemplo insuperável de resignação e paciência, na sua inquestionável fé em Deus, tornando-se a Mãe Santíssima da Humanidade toda.
Fonte: Livro: Após a Tempestade/Divaldo Pereira Franco/Espírito: Joanna de Ângelis
