ALIMENTE A GRATIDÃO
Todos, invariavelmente damos muita importância à gratidão, pelo menos quando falamos referindo-nos a essa virtude. No entanto, nem todos temos a noção exata desse dever.
Certas pessoas acostumaram-se desde pequenos a saber dar valor àquilo que os outros fazem em seu benefício, e qualquer gesto ou palavra provoca reconhecimento e gratidão da parte delas. Encontramos nessas pessoas gratas o afã de querer retribuir a tudo o que recebem da melhor maneira que lhes é possível. Todos os benefícios recebidos são lembrados, recordados, agradecidos.
Em outras criaturas, porém, o comportamento é oposto. Qualquer favor que lhes prestemos é recebido quase como uma obrigação que tenhamos de fazê-lo, quando não – é incrível – interpretado da pior maneira possível. Incapazes que são de um gesto de bondade desinteressado, julgam os outros por si mesmos. Ocorrem então coisas interessantes. Vejamos.
Pessoas do primeiro caso citado, logo que recebem uma visita, tudo fazem para retribuí-la, não tanto levados pela norma da boa educação social, quanto pela abundância do coração generoso e amigo.
Os do segundo grupo recebem dez, vinte visitas da mesma pessoa e nem pensam em retribuir. Recebem cartões de felicitações, e jamais pensam em responder. Recebem presentes e não só evitam retribuir, como até se mostram quase aborrecidas, como se tivessem recebido uma ofensa pessoal.
São, pois, dois modos de agir em completa oposição.
Inegavelmente, é muito mais agradável termos contato com as pessoas do primeiro tipo: todos gostamos de pessoas gratas, que reconhecem os benefícios recebidos, embora nem sempre fiquem falando neles, mas que demonstram, por suas ações, que receberam com satisfação e alegria aquilo que lhes demos, partindo de nossos corações.
A qual dos dois grupos pertencemos? Aos que tudo querem para si, não se julgando jamais obrigados para com ninguém? Ou aos que tudo sabem agradecer, dando valor às dádivas e benefícios, e retribuindo com reconhecimento profundo, por pequenos gestos, por uma ligeira inflexão da voz, por um sorriso que externa a alegria da alma?
Não nos esqueçamos de que a gratidão é o principal alimento das amizades. O amor (quando verdadeiro) pode permanecer mesmo quando não encontre gratidão por parte da pessoa amada. Mas a amizade, não!
A amizade é alimentada por esses pequeninos atos de gratidão, de reconhecimento, de lado a lado.
Pessoas existem que recebem benefícios, visitas, presentes, telefonemas de interesse, votos e… jamais pensam retribuir. Acontece que a outra pessoa que faz esses gestos de carinho vai esfriando, diminuindo a força de sua amizade e verificando que talvez esteja sendo “demais”, e que sua amizade não é desejada.
O único caminho é afastar-se.
Depois – estamos relatando casos vividos – a outra pessoa diz, ingenuamente:
– Não sei por que Fulano desapareceu…Nunca mais nos visitou, nem mesmo telefona mais…Que será?…Nunca fiz nada a ele!…
Pois é exatamente isto: você nunca fez NADA a ele…nunca fez uma visita, nunca retribuiu uma delicadeza, nunca telefonou para saber notícias, para fazer votos…nada…não fez nada! Que queria que essa criatura fizesse? Que continuasse insistindo, quando via que sua amizade não era benquista? Não. Afastou-se…
Examinemo-nos seriamente, sem que ninguém nos ouça nem veja as conclusões. Se por acaso temos a consciência pesada por algum comportamento semelhante ao segundo tipo, façamos força, o mais rápido possível, para enfileirar-nos no primeiro tipo: a gratidão não é apenas uma virtude, é um dever, uma obrigação, é a própria vida segundo as leis da Natureza.
Vivamos com gratidão, para que, por nosso exemplo, possam nossos filhos pautar sua existência futura, conquistando a felicidade que tanto lhes almejamos.
Fonte: Livro Teu lar Tua Vida – C. Torres Pastorino, fl.36.