SOFRIMENTO E CRISTALIZAÇÃO
É sabido, dentro das mais simples concepções de psicologia humana, que não é fácil tarefa a transformação do psiquismo de alguém, mobilizando-o para que se modifiquem estruturas mentais, desde muito tempo trabalhadas, tendo-se convertido em atavismo psicológico.
Fácil será dar-nos conta de que há processos intrínsecos da personalidade que se mantêm cristalizados, impedindo o indivíduo de avanços maiores no campo do progresso e, muitas vezes, detendo- o em tremendas situações do tormento e carência.
Não podemos esquecer, na Terra, na esfera dos irmãos que sofrem, verdadeira multidão daqueles que, não obstante padeçam processos de dores físicas e morais cruéis, não logram alterar certas posturas íntimas, como alguém que se tivesse tornado impermeável debaixo da chuva de bendita procedência, capaz de alimpar em definitivo o âmago da alma.
Encontramos pessoas que, enquanto amargam enfermidades e deficiências físicas, mantêm-se ditadoras de desequilíbrios, geradoras de humilhações para os semelhantes, pertinazes mandões e irredentos golpistas, valendo-se, muitas vezes, da própria situação em que se acham, a fim de submeterem companheiros que os cercam, dobrados ante o sentimento piedoso, transformados em “alimárias” que suportam o peso do mau gênio desses necessitados infelizes.
Deparamos pessoas assinaladas pela cegueira, que exploram e maltratam seus condutores, prendendo-os com torpes ameaças ou com promessas mentirosas, complicandose mais ao invés de elaborarem a libertação própria com os materiais que a cegueira lhes traz.
Vemos pessoas em pleno processo de dores morais, suportando agrestias de todo tipo pelo caminho, sem que se ponham mais respeitosas, mais compreensivas ou clementes para com os irmãos da jornada. Apoiam-se em equivocadas escusas e seguem maltratando, maldizendo outros corações, envolvendo-se em processos de vingança, procurando culpados pelos seus padecimentos com o fito de estabelecerem os regimes de vinditas.
É válido observar o quanto essas almas seguem cristalizadas a processos antigos de maldade e resistência ao bem, demonstrando que os padecimentos ainda terão muito trabalho a realizar no bojo desses corações, propiciando o estilhaçamento gradual dessas cristalizações miseráveis, que detêm as almas nessas velhas torpezas dos seus caracteres deseducados.
Diante desses casos estranhos e difíceis, conduzamos as energias para envolvê-los em vibrações de indulgência, na certeza de que somente sob o amparo do tempo, tais companheiros conseguirão crescer para Deus, o que significa para a própria ventura, iluminando-se com a luz que o sofrimento lhes trará, motivados, então, para seguirem ao encontro de Jesus com entusiasmo e firmeza, com o devido aproveitamento das lúcidas ensanchas que lhes chegam dos arcanos da Vida.
São muitos os que padecem fazendo, por seu turno, o padecimento alheio. Usemos para com eles as vibrações de paciência e de ajuda, compreendendo que, no passo em que caminham, deverão arcar com muitas e difíceis tormentas para o amanhã, em regime de maior gravidade, quando ajam conscientemente.
Quando estejas tu mesmo sob excruciantes tormentos, compenetra-te de que resgatas, em nome da Lei da Causalidade. Desse modo, não te enrijeças nas indisciplinas. Não desejes aos outros as tuas dificuldades. Não queiras vingar-te de ninguém porque sofras, uma vez que somente tu deverás carregar o madeiro que se encontra em teus ombros e, quando te chegue um abençoado “cirineu”, aceita-lhe a cooperação fraternal, sem olvidares que nada obstante o socorro recebido, a cruz a ti pertence.
Agindo com plena confiança em Deus, te estarás aproximando do dia faustoso da libertação pela qual suspiras, aproveitando o ensejo para que te eduques nas pautas de amarguras e dores, de frustrações e agonias, fazendo valer a tua força interior para que te superes a ti mesmo.
Avança, então, corajosamente e dignamente, porque se o teu sofrimento de hoje se faz exigente cadeia de agonias, sem dúvida é a chave da tua alforria no amanhã.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 121)