EDUCAÇÃO PARA A DESENCARNAÇÃO
Sem embargo, a desencarnação é dos fenômenos do mundo aquele diante do qual é muito difícil encontrarmos a devida compreensão, que permita aos que lhe sofreram o golpe a necessária tranquilidade do coração, diminuindo a acerba dor que maltrata, que amarfanha
Mesmo perante o fenômeno do qual nenhum encarnado se eximirá, constituindo-se a desencarnação uma lei que não comporta exceção, é raro nos deparemos com aclaradas consciências que, nada obstante o padecimento moral, mantenham-se de pé, certos de que a lide no mundo prossegue a exigir empenho nos labores da urgente renovação humana.
Diante da chamada morte, torna-se difícil qualquer arrazoado, enquanto a mente não afastar-se da influência sentimental que possibilite amadurecida reflexão.
Quando a espada da morte ceifa as horas dos companheiros da movimentação terrena, é comum nos deparemos com as considerações e justificativas, as mais várias e curiosas, quando não irracionais e improcedentes.
– “Pobrezinho, era tão criança, começando a viver, depois de aguardado com tanta esperança…”
– “Ah, meu Deus, agora ele que estava em plena juventude, cheio de vida e de sonhos…como se pode entender uma coisa dessas…”
– “Veja só! Quando estava na melhor fase da vida, com a família formada, com sucesso na profissão, criando os filhos e vivendo tão bem no lar…”
– “É difícil aceitar…depois de tantas lutas na vida, os filhos bem colocados, na fase em que poderia descansar e usufruir os resultados de toda uma existência trabalhando…chega-lhe a implacável morte…”
Em outras angulações, ouvimos:
– “Imaginem só! Se estivesse doente, a gente iria esperando….Contudo, uma morte tão repentina, tão repentina, tão absurda… é demais”
– “Não é fácil ver alguém se acabar assim, consumido por uma doença ingrata, cruel, que lhe solapou, aos poucos, a existência. É muito duro!”
– “Se fosse uma morte de repente, sem que a pessoa sofresse, ainda se conceberia. Mas, um acidente tão brutal, é traumatizante e muito doloroso!”
Em outros campos de pensamentos, deparamos com expressões como estas:
– “Como crer num Deus que permite isso a uma criancinha, deixando toda a família em desespero?”
– “Deus não existe! Por que uma coisa dessas comigo? Logo a mim que não faço mal a ninguém? É uma dor enlouquecida….”
Desfilam, assim, sentimentos feridos, palavras impensadas, revoltas e impropérios que raiam pela insanidade do psiquismo, em razão do profundo despreparo da maioria dos indivíduos para considerarem a desencarnação como deve ser considerada.
Ao longo do tempo, retomando as reflexões oriundas dos ensinamentos de Jesus, vem o Espiritismo trabalhando o intelecto e as emoções humanos, a fim de que se possa admitir a morte como parceira da vida, indispensável ao processo de emancipação e de crescimento das almas, da mesma forma que a poda fortalece nas árvores, o reverdecimento e robustecimento, com objetivo de conseguir-se nobre floração e útil frutescência.
O Espiritismo vem, desde o seu surgimento na Terra, educando os indivíduos para a naturalidade do fenômeno da morte fisiológica.
Partindo do princípio de que todos os que se alojam num corpo celular, no mundo, não passam de Espíritos reencarnados, sejam recém-nascidos, crianças, jovens, adultos ou idosos, para todos a desencarnação tem um fim, que muitas vezes não é divisado pelas criaturas, surpreendidas com a sua ocorrência.
Há um profundo sentido teleológico tanto no passamento do infante quanto no do ancião, uma vez que nessas tramas da vida estão na experiência reencarnatória antigos déspotas do pretérito de crueldade; sicários da saúde alheia, que infligiam impiedosos sacrifícios, homicidas frios que lograram cegar ou comprar a justiça terrena, admitindo-se indenes de qualquer consequência; suicidas, voluntários uns, involuntários outros, que retornam para enfrentar os resultados da própria semeadura, conforme as falas do Evangelho do Reino.
Não há, diante do Amor de Deus, padecimentos em vão, dificuldades inócuas, ou descabidas expiações, em nenhum recanto do planeta.
Vale lembrar que os familiares e seres afins, que sofrem perante esses quadros da passagem, dolorosa ou não, estão vinculados mais ou menos profundamente com a situação em questão.
Tudo é correção nas leis de Deus.
Tudo tem sentido à frente das necessidades de cada alma para se harmonizar com as felizes vibrações cósmicas.
Urge sejam educados os encarnados, a fim de que passem a considerar a desencarnação, que se dará, mais hoje, mais amanhã, conosco ou com os nossos, sem que seja necessário desenvolver-se qualquer quadro neurótico ou quejandos.
Sendo que a vida atual de cada indivíduo tem o poder de atenuar ou de agravar as condições gerais ou específicas da desencarnação, serão de bom alvitre os cuidados que se deve ter para com a presente existência somática, procurando cada um respeitar a vida, respeitando-se, na certeza de que a morte é a chave que abre as portas da Vida, devendo os encarnados realizar, enquanto na Terra, tudo o que lhes seja possível para que desapareçam os lances de excessiva amargura ou de rebeldia ante os Supremos Desígnios advindos do grande Autor do Universo.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl. 127)