ECOLOGIA E PARADOXOS HUMANOS
“…e ao próximo como a ti mesmo.”
Jesus (Mt. 22:39)
É típico do caráter humano o emboscar-se nas selvas dos contrassensos, que parecem indicar a pouca possibilidade de os indivíduos ajuizarem a respeito das suas próprias atitudes diante da existência.
No momento em que se acha a Humanidade, enleada em mil transformações, vivenciando múltiplos conflitos de ordem sócio-política que fazem tremer velhas bases que antes sustentavam o vasto edifício das realizações humanas, vale evocar, de fato, algumas necessidades que estão exigindo imediatas providências.
Nesse comenos, levantam-se as novas vozes do movimento ecológico que ao verificar que os seres despautam no tocante à Natureza, buscam mobilizar os interessados de todos os povos e de todos os níveis sociais, de modo que acordem, em todos, esses sentimentos de atenção ou de maior atenção para com a vida que pulsa no indivíduo humano e em seu derredor.
Vemos como excelentes as providências de almas conscientes das responsabilidades para com a sua moradia sideral, não obstante vejamos, igualmente, a onda paradoxal que se expressa através de ações impensadas de muitos, que se distribuem em grandes contingentes de equivocadas almas.
Busca-se, por diversos meios propagandísticos, a conscientização geral para com os perigos indiscutíveis da poluição aérea, veiculados tais venenos pelo dióxido de carbono expelido pelas gargantas enegrecidas de chaminés e descargas de viaturas automotoras das grandes ou pequenas metrópoles, chegando-se a propor como sendo a ideal, a vida retirada das cidades, vivida nos campos, onde se homenageia o verde e o saudável.
Tristemente, contudo, são muitos os cantores da ecologia que, preocupados com as quantidades avantajadas de veneno lançadas no ar atmosférico, encontram-se intoxicados pelos detritos de seus tabacos, elegantemente baforados, nas ruas, nos lares, no campo ou na cidade, por gente simples ou requintada, somando-se às quotas imensas que provocam destruição.
Eloquentes incentivadores da preservação do ecossistema terrestre, condenando os processos de destruição dos revestimentos de ozônio, que protegem os seres de sérios perigos que as irradiações solares não devidamente filtradas poderiam provocar, não se apercebem de que, enquanto se opõem aos cânceres de pele, apregoados em escandalosas manchetes, deixam de lado os cânceres que os produtos etílicos e tabagísticos produzem nos pulmões, no estômago, no esôfago, na boca, bem como sobre a torrente tormentosa de associações psíquicas com desencarnados que se locupletam no vício dos encarnados, que servem como instrumentos vivos de suas destruidoras paixões.
Inumeráveis promotores dos movimentos de proteção à Natureza vivem se opondo, através de um sem-número de campanhas, à matança indiscriminada de animais em fase de extinção, se que percebam que, enquanto anelam por resguardar a fauna, olvidam-se dos irmãos humanos que se valem de armas variadas, brancas ou de fogo ou de outras, para se matarem uns aos outros, perante a inépcia dos poderes do mundo para deter essa loucura suicida e homicida, em cujo bojo a vida humana vale tanto ou menos que a de um inseto.
É muito importante a nossa participação espiritual em todos os movimentos que apoiem os progressos humanos, apareçam onde aparecerem, desenvolvendo os projetos do Cristo Soberano.
Entretanto, não será lícito que desconheçamos os paradoxos em que vivem tantos grupos de humanos, que, mantendo discursos e cursos exteriores, não tiveram tempo ou amadurecimento para pensar de modo mais profundo sobre o que discursam e sobre o que vivem, realmente.
Torna-se impossível admitir que alguém possa amar a Deus sem amar o próximo ou que possa amar o próximo sem se amar a si próprio, consoante o ensinou o Divino Amigo. Assim, não será difícil perceber que, enquanto o amor for mera encenação sensorial ou palavra vazia entre os seres, todo movimento que pregue o progresso do conjunto, sem educar a cada uma das partes componentes, tenderá a desaparecer na rota de inconfessáveis interesses, perdendo, assim, a credibilidade, por não passar de agitação meteórica incapaz de convencer àqueles mesmos que o estejam apregoando.
O valor da educação mais se exalta nessas análises, quando antevemos o homem renovado e lúcido, respeitando-se e aos que o cercam, preservando, então, em nome desse respeito e desse amor, os valores da bendita Natureza, reconhecendo que dela faz parte também.
Fonte: (Livro Educação e Vivências – Raul Teixeira, pelo Espírito Camilo, fl.21)